Valentina Herszage brilha com protagonista de alma livre Flávia: “Sinto avalanche de amor do público”

Atriz fala de reencontros e “shippers” na trama das 7 e das conquistas na carreira, iniciada no cinema


27 de dezembro de 2021 02h50

Foto: Larissa Kreilli

Por Luciana Marques

A entrevista completa está disponível no vídeo, abaixo.

Aos 23 anos, Valentina Herszage se firma cada vez mais no seleto grupo de atores mais requisitados de sua geração. Após se destacar na estreia em novelas como a sensível Bebeth de Pega Pega e depois mostrar potência na série Hebe como a personagem-título na fase jovem, ela agora encanta como a Flávia, de Quanto Mais Vida, Melhor! Jovem de alma livre, empoderada, que não leva desaforo para casa, ela é uma das quatro protagonistas da trama das 7 de Mauro Wilson. Ah, ela ainda é dançarina de pole dance e canta. “Eu até penso que na vida eu gostaria de ser mais Flávia. Sou mais fechada, tem muitas vezes que eu ainda peço licença para existir”, conta.

Além do desafio de viver uma personagem tão distante de si, o novo trabalho na TV lhe proporcionou o reencontro com os parceiros Mateus Solano e Jaffar Bambirra, com quem atuou em Pega Pega, como pai e namorado, respectivamente. Agora, eles vivem um triângulo amoroso. Na entrevista, o ArteBlitz pediu para a atriz defender os dois pares da personagem na trama. Já nas redes, a torcida pelo improvável casal #flagui, Flávia e o cirurgião Guilherme (Matheus Solano), está grande. “Fiquei muito feliz com a aceitação desse possível casal, desse jogo de sedução entre os dois”.

Valentina fala também do seu amor pelo cinema, onde iniciou a carreira e, em 2015, já era premiadíssima pela atuação no longa Mate-me Por Favor, como a adolescente Bia. Em breve, ela poderá ser vista novamente na telona em O Mensageiro, novo filme de Lúcia Murat, em que dá vida à Vera, guerrilheira presa durante a ditadura militar. No papo, ela conta ainda que é feminista e se diz entusiasmada em ver cada vez mais a mulher com força no audiovisual e diz que tem dito sorte no encontro com os personagens, um sempre bem diferente do outro. “Eu tô muito feliz com a forma como a minha carreira tem caminhado”.

Flávia (Valentina Herszage). Foto: Globo/Fábio Rocha

Como você tem visto a receptividade do público com a Flávia? Nossa, é uma avalanche de amor e de afeto. Ainda mais porque a gente gravou ela inteira antes de estrear. Então a gente tava com sede desse calor do público, para ver o que iam achar. A Flávia é uma personagem muito dinâmica, divertida, tanto de fazer, quanto de assistir, eu estou adorando poder assistir. Muitas das cenas eu nem lembrava mais, de tanto tempo que a gente tinha gravado. Então, pelo o que eu tenho visto nas redes sociais é só amor, só alegria. Estou muito feliz com a repercussão, as pessoas estão amando a Flávia.

Você já contou que para a composição da Flávia, você se inspirou um pouco na Natalie Portman, em Closer, para o momento em que ela vira a Pink, o alter ego da personagem. Como foi isso pra você, de fazer uma personagem dentro da sua personagem? Eu acho muito interessante fazer a Pink, essa personagem da Flávia, porque ela explora justamente uma sensualidade mais ligada à arte. Eu tenho acompanhado as dançarinas de pole dance de fato que compõem o cenário da boate e é muito lindo. É uma arte mesmo, tem que ter força, técnica, mas tem que ter ritmo, paixão pela coisa e principalmente explorar essa sensualidade. E isso foi algo que eu tentei trabalhar bastante, a Ju Natal, a preparadora de pole dance, me colocou muito nesse lugar, porque o pole dance é essa celebração dos corpos mesmo, desse amor próprio. Você tá fazendo e você está se curtindo. A Pink foi um caminho muito legal para eu chegar até a Flávia, na forma que ela lida com as outras pessoas e com essas confusões e essa vida dela toda atrapalhada e perdida.  

Na coletiva, o autor Mauro Wilson definiu a Flávia como empoderada, arrogante, metida, que coloca o dedo na cara dos outros e não se entrega à sofrência...  Ela é muito distante da Valentina ou tem algo que até você trouxe um pouco dela para você? Acho ela bem distante de mim, mas eu até penso que na vida eu gostaria de ser mais Flávia. Ela é uma personagem que eu, Valentina, miro na vida, eu sou mais fechada, tem muitas vezes que eu ainda peço licença para existir. Eu acho que isso é uma coisa legal que a personagem tem, ela não pede essa licença para estar ali, para estar onde ela quiser estar e fazer o que ela quiser fazer. Eu acho isso incrível! Então é legal poder traduzir tudo isso que eu sinto, mas que não necessariamente eu consigo na prática colocar para fora, mas colocar dentro de uma personagem que é tão livre. Eu acho que ela é uma personagem livre, essa é a sensação que eu quis trazer e que eu senti enquanto eu tava fazendo.

Nessa novela você está reencontrando dois colegas de Pega Pega, o Matheus Solano e o Jaffar Bambirra. E a Flávia se envolve com os personagens dos dois. Fala um pouco sobre essa nova parceria com eles... Foi tudo o que eu precisava, é uma delícia estar com eles tanto em cena, quanto na vida. O Matheus pra mim, eu até falo para ele, que é minha âncora nesse trabalho, porque realmente é uma pessoa que eu sei que eu posso confiar, desabafar, que está ali se eu precisar. E a gente pensa junto a cena, a gente tem interesses artísticos muito parecidos e formas de interpretar também. Eu acho o Matheus incrível, sou muito fã, sou apaixonada por ele. E o Jaffar, o nosso encontro é muito bonito, porque a gente começou junto na TV, chegamos junto em Pega Pega, a gente se deu as mãos, apavorados, tipo, o que vai ser isso? E Pega Pega foi o máximo. E a gente está junto de novo é maravilhoso, os dois mais maduros também até por termos passado por outros experiências de trabalho. Ele fez O Sétimo Guardião, eu fiz a série da Hebe.

Foto: Larissa Kreilli

Eu queria que você defendesse um pouco cada um dos casais, Flávia e Guilherme e Flávia e Murilo... São casais de fato diferentes, acho que são tipos de amores diferentes, então tem para todos os gostos. O casal Flávia e Murilo eu acho muito bonito, porque quando ela está no céu, a Flávia fala que quer se apaixonar, que quer encontrar um grande amor. E o Murilo é um personagem que eu acho lindíssimo, esse homem sensível, músico e ele se envolve com ela, acaba entrando nessas confusões dela e se metendo nessa vida doida dela, nas roubadas. Essa roda acho que gira muito bem. E com o Guilherme também é muito legal porque é instigante, você não sabe onde aquilo vai desaguar. São personagens de universos completamente diferentes. Se não fosse esse acidente de avião, eles provavelmente jamais se encontrariam na vida. E eu e o Matheus, a gente quis construir uma coisa divertida, que não entrega de cara o que isso pode virar ou não, para o público justamente ficar nessa agonia. Será que eles vão virar um casal, será que eles combinam como casal, será que não, mas e a Rose (Bárbara Colen) e o Murilo? Essa relação ainda vai render muito, tem muita coisa para acontecer.

Você começou a carreira no cinema, foi premiada em Mate-me por Favor, como a Bia. O que o cinema significa na sua vida e carreira? O cinema pra mim é muito importante, é a forma que eu tenho de me comunicar com as histórias do Brasil, um país muito rico culturalmente, com muitas histórias que a gente que resgatar e contar e muitas histórias a serem inventadas. Quando eu tinha 15 anos, eu fiz esse filme, o Mate-me Por Favor, o meu primeiro encontro com o cinema. Eu já tinha feito a série Mestre do Tempo, mas eu era muito novinha. Então, o Mate-me foi de fato um encontro muito potente, porque eu tinha a mesma idade da personagem, portanto eu estava vivendo as mesmas revelações dela, eu e as meninas. A Anita (Rocha da Silveira), a diretora, tem uma pegada muito legal de pegar os adolescentes e tratar a adolescência de forma profunda, da forma que é, porque ser adolescente é difícil, tem um sofrimento, mas também descobertas, a coisa do flerte, a descoberta da própria imagem, de como vai se relacionar com o mundo. Então foi muito importante. E eu sempre assisti muitos filmes, amo cinema, meus pais não são artistas, mas são muito fãs de arte, de cinema, então sempre foi um rio muito grande que percorre a minha vida, a história do cinema, principalmente o cinema nacional.

A mulher vem conquistando espaços no cinema, a gente vê, não ainda o suficiente, mas mais roteiristas, cineastas, câmeras, grandes personagens femininas no audiovisual em geral. Que lugar está o feminismo na sua vida? Eu sou hiper, mega, superfeminista. Eu acho que as mulheres são maravilhosas, inteligentes e acho que seguram qualquer onda, o quer vier. A gente tem isto realmente, um movimento no cinema, ainda não perfeito, mas caminhando muito com roteiristas mulheres, diretoras mulheres, chegando a Festivais, ganhando prêmios e contando histórias duras, de ação. Eu acho que essas personagens cada vez mais abrem brechas para a gente poder respeitar isso na vida, não só o que a gente assiste na TV, mas a gente poder ter essa relação de direitos iguais, de a mulher poder ter o espaço que quiser. Então essas histórias, a personagem da Andréia Horta em Um Lugar ao Sol dizer que não quer ter filho, que bom a gente poder falar sobre isso. Por que as mulheres tinham que ficar engolindo isso, sem poder se identificar em lugar nenhum, sem poder abrir essa discussão. Eu acho que o audiovisual, o teatro, estão aí para abrir discussões mesmo, para fazer as pessoas repensarem e eu acredito que façam.

Ao avaliar a sua carreira, acha que tudo tem acontecido na forma que tem que ser, fazendo coisas que te interessam? Sim! Eu acho que o certo é o que é. E eu acredito no movimento. Eu tenho dito de fato uma sorte, um presente, de poder fazer personagens tão diferentes umas das outras. Isso tem acontecido por algum motivo divino ou não ou do acaso, de as personagens terem sido muito diferentes. Quando eu pego fotos da série Hebe e a Flávia agora, a Bebeth também, eu tava chegando na televisão, são muito distintas. E eu estou muito feliz com a forma como a minha carreira tem caminhado. E espero continuar indo para lugares diferentes, conhecendo pessoas diferentes, a graça é essa!