Nina Tomsic é a carente e dramática Ingrid: “Ela é o que sempre neguei em mim, mas me destravou em uns lugares”

Cria do teatro, atriz brilha em estreia na trama das 7 e exalta parcerias de Giovanna Antonelli e Jussara Freire


18 de dezembro de 2021 05h57

Foto: Globo/Fábio Rocha

Por Luciana Marques

*Veja a entrevista completa no vídeo, abaixo.

Se em Quanto Mais Vida, Melhor!, Ingrid é carente, dramática, sensível e ciumenta, sua intérprete, Nina Tomsic, de 21 anos, é o oposto. “Sou um furacão, de dizer, ah, sou fria, cheia de autoestima. No início, odiava ela, depois foi maravilhoso, porque a Ingrid foi me destravando em uns lugares também”, conta. Já no primeiro capítulo, Nina se destacou em uma cena forte em que a personagem, revoltada, cortava o cabelo em uma das várias brigas com a mãe, Paula (Giovanna Antonelli), observada pela protetora governanta Tuninha (Jussara Freire).

Na entrevista, a atriz conta que o cabelo não era dela, porque já estava com os fios curtos. Mas a partir dessa sequência e de outras, dramáticas ou cômicas, já se percebe que, apesar da estreia em novelas, Nina tem estrada na atuação. E tem mesmo. Ela faz teatro há mais de 13 anos, cursou o Tablado, é uma das fundadoras do grupo teatral Chão e em breve se forma também em Artes Cênicas na Unirio. “Uma coisa que as pessoas acabam jogando para um lugar de talento e não é. Eu tenho muito estudo, porque não é uma profissão fácil de chegar lá e fazer”.

Foto: Globo/Fábio Rocha

Como você definiria a Ingrid? A minha história com ela foi muito legal, porque no começo, eu odiava a Ingrid, achava ela uma chata, porque é o meu oposto. A Ingrid é tudo o que eu sempre neguei dentro de mim, uma pessoa carente, ciumenta, que precisa chamar a atenção de certa forma, é dramática, chora, é toda sensível. Só que depois foi maravilhoso, a Ingrid foi me destravando em uns lugares também. Hoje eu sou uma pessoa muito diferente do que eu era antes de fazer a personagem, porque ela é uma pessoa que tem muitas questões de autoestima, de segurança em geral. Ela não recebeu o amor da mãe em nenhum momento, só rejeição, cobrança e perdeu o pai muito nova. Então ela está ali tentando entender o que ela quer ser, ela tem 17 anos, a pessoa está na pior fase, quando você se pergunta o que eu vou fazer da minha vida, quem sou eu, quem eu quero ser?

E nessa fase tudo é muito dramático, né? É, o mundo vai acabar, ninguém me entende, eu estou sozinha, não tenho amigos... Então é uma pessoa que, por mais que tenha muito brilho, seja muito boa por dentro, ela tem muita dificuldade de bancar. Eu tenho um irmão de 17 anos, observei muito ele, ficava olhando, porque é essa fase louca. Eu passei também e foi pesadíssimo. Então é dar credibilidade para essa pessoa. A Ingrid não é chata, no começo eu achava que era, mas depois descobri que a chata sou eu. Eu que sou a “racionalzona” adulta, ah, adulta... Ela está tão fofa vivendo esse momento.

Você escreveu no Instagram que você estudou na escola Giovanna Antonelli com mestrado em Jussara Freire. Como foi na sua estreia dar de cara com essas duas atrizes fenomenais? É isso, foi literalmente uma escola pra mim, já que eu nunca tinha feito novela. Eu cheguei no set sem entender nada, e agora? E as duas são tão amorosas, tiveram tantos cuidados comigo. A Gi sempre me dava toques e eu ia anotando mentalmente e observando muito elas. As duas sabem exatamente o que estão fazendo ali. E está tão no corpo delas, que não precisam nem falar, são pessoas que já se relacionam com a câmera, já entram e já fazem. E eu sou muito observadora, fico ali caladinha olhando o máximo de tempo que eu puder. Então, realmente, eu me formei na escola Giovanna Antonelli com mestrado em Jussara Freire.

A gente vê essa relação conflituosa de Ingrid com a Paula. O que o público pode esperar dessa relação? É uma relação tão linda, por ser tão forte e tão difícil, que a gente vai para todos os lugares possíveis. É uma relação que acima de todas as brigas e os desentendimentos têm muito amor. E amor dói, né, quando é tão forte e tão intenso, você às vezes não sabe lidar muito bem com isso. Então, eu acho que é possível que a gente espere muitas emoções. Até muita gente pode se identificar com a relação. E tem muitas risadas também... Mas é uma das mais bonitas trajetórias de relações que eu já vi. A gente vai para todos os lados. E é esse lugar de a gente ir aprendendo aos poucos como se comunicar e entender que as diferenças, na verdade, só nos completam e a gente pode aprender uma com a outra. Eu tô muito animada para ver, nas gravações dava uma emoção, é muito lindo, muito simples e complexo.

E como é a sua relação com a sua mãe? Eu amo muito a minha mãe, ela é criativa, muito de boa, todos os meus amigos amam ela. Assim como todos nós, tem lados lindos e feios, é uma mãe. Eu falo para ela que quanto mais eu cresço, mais eu sinto vontade de abraçar ela, não de brigar, porque a gente vai entendendo. Eu digo, eu sei o que você está sentindo, mas tenho o meu momento, temos momentos diferente, conflitos, dois anos de pandemia presos em casa, somos quatro aqui. Mas eu sou muito parecida com ela, roubo muitas coisas dela.

A Ingrid pode ganhar um amor? Eu espero que sim... Ela precisa de amor, eu estou torcendo para ela encontrar alguém, mas não sabemos o caminho. Não vou falar, senão vocês não vão querer ver a novela. Eu quero que vocês vejam a novela.

Foto: Maju Magalhães

Acredita que esse tempo todo seu de teatro, de estudo, te deu estofo para segurar essa personagem com tantas camadas em sua estreia numa novela? É isso! Eu tenho muito estudo, uma coisa que as pessoas acabam jogando para um lugar de talento e não é. Eu estudo isso há tanto tempo e tenho vontade de estudar sempre. A|cho muito importante essa prática, é um processo necessário. Não é uma profissão fácil, que você pode ir lá e fazer. É muita dedicação, eu já passei de contra-regra, a limpar o chão do teatro, a ser diretora, a ser atriz... E isso tudo é muita experiência. Eu sou uma macaca velha da atuação. Eu nasci para servir ao teatro, a esse lugar, a esse estudo, eu me apaixono todos os dias por isso, quero sempre estar pensando isso, é um vício, de certa forma.

Li que você tem ratinhas de estimação. Como surgiu essa paixão? Eu amo animais desde sempre. Eu fui na seção de ratos de um pet e disse, eu quero, eu preciso. E fui atrás de pessoas que criavam e achei uma menina que tava com a Pina e a América. Elas vieram bebês pra mim, peguei em janeiro de 2020, fiquei quase dois anos grudada com elas por conta da pandemia. E quanto eu decidi, eu fiz uma reunião com a minha mãe, disse, mãe vamos almoçar... Aí eu comecei a apresentar os meus powerpoints de “por que ratos são legais?”. Olha, rato é higiênico, muito barato de cuidar... Ela ficou meio assim e eu disse, amanhã vou pegar duas ratas e elas vão lá pra casa. Mas eu que cuido, todo o custo é meu. E todos se apegaram muito lá em casa. Eu tenho uma cachorra salsicha e elas não podem ficar soltas, por isso ficam numa gaiolona. Elas dormem o dia inteiro, acordaram à noite e ficam ativas, eu pego, solto elas no quarto umas duas horas. Os ratos vivem de dois a cinco anos. A Pina faleceu em agosto, mas ela teve uma vida linda, ela era uma rata tão perfeita, foi bonito. Mas eu sofri muito e não quero pegar mais agora.