A hora de Pablo Morais, o Ninrode, de Gênesis: “Vim do nada e estou construindo uma carreira no Brasil”

De infância simples na periferia de Goiânia, ele festeja primeiro protagonista e cita sonhos na atuação e na música


01 de fevereiro de 2021 00h34

Foto: Lucio Luna

Por Luciana Marques

*A entrevista completa está disponível no vídeo, abaixo.

Aos 27 anos, Pablo Morais comemora um momento singular em sua carreira. Depois de participações em Velho Chico, Segundo Sol e Malhação: Viva a Diferença, o goiano agarrou com unhas e dentes a oportunidade de viver o seu primeiro protagonista: o poderoso Ninrode, da fase Torre de Babel, em Gênesis. Quem acompanha a superprodução, percebe a potência e a entrega do ator em cenas como as de caça ou mesmo de conflito, do personagem com Semíramis (Francisca Queiroz), mãe dele. “Eu fiz com todo o coração. O trabalho com a arte pra mim é assim, potente. Então, fiz cada cena como se fosse a última”, conta.

O ator conta que fez muita trilha e até le parkour para viver o caçador de Simear, que quer desafiar Deus ao criar uma cidade e uma torre para estar mais perto dos céus. E o fato de curtir todos esses esportes radicais o ajudou muito. Indagado sobre semelhanças com o personagem, Pablo, que deixou a periferia de Goiânia aos 14 anos, para iniciar a carreira de modelo e em seguida de ator, cita determinação. “Minha mãe vendia pastel em feira, trabalhava limpando hospital, não tive uma infância tão fácil, só tive mãe. Então, pra mim é muito legal ter a noção de onde eu vim, de onde estou e de onde eu quero chegar”, afirma ele que, em breve terá novidades também na carreira musical.

Ninrode (Pablo Morais). Foto: Blad Meneghel/Record TV

O público está vendo uma história linda nessa terceira fase, Torre de Babel. Acredita que Ninrode será marcante na sua trajetória? Já está sendo um personagem muito marcante na minha carreira. O Ninrode é citado muito brevemente em Gênesis, eles não se prolongam na história dele. Mas em outros pontos de vista, ele aparece muito, como na de Tamuz, filho dele, Semíramis, que foi vista como uma Deusa. Depois Ninrode vira o Deus do Sol. Mas deste ponto de vista que vemos no ar está lindo, eu estou adorando fazer a novela. É uma história linda de se contar.

As cenas de caça são muito fortes no vídeo, a gente vê muita verdade ali. Como foi a preparação? Eu sou goiano, criado no mato, com cavalo. E eu tenho muito sorte que a maioria dos personagens, as obras que eu faço, tem sempre muita ligação com o corpo. E eu fiz balé clássico, tecido acrobático, remei no Vasco, no Flamengo. Então, quando eu vim para ofício do ator, veio muita coisa física para mim. Tanto que em Velho Chico tinha cavalo, vaquejada. O Deco tinha moto, o Tomé era pescador de traineira. Então, quando tem um personagem muito terra, muita ação, acaba que o universo atrai. E foi exatamente isso, porque a preparação foi muita trilha, fiquei muito no mato, fiz le parkour, que eu precisei para poder correr no meio do mato, para ter uma certa agilidade, saber pisar como um caçador. Fiz aula de facão, de lança, e fora o estudo teórico, assisti muitos filmes. É uma preparação realmente de se imbuir daquilo para viver. E imprime tão real, porque a gente tava vivendo mesmo ali, a gente tava correndo mesmo, a lança a gente tacava mesmo, era um animal cenográfico, mas no tamanho real. Então é muito legal, dá para embarcar. A preparação foi bem fiel a tudo o que vocês viram.

Foto: Lucio Luna

Ninrode parece ser um cara legal, mas é egocêntrico e desafia Deus ao querer construir uma cidade uma de torre próxima dos céus. Como você o vê? É porque o ser humano é dual, ele não é só do bem ou só do mal. E ele tem um certo tipo de pai e um certo tipo de mãe, que influenciavam ele. Nessa época, a gente seguia muito fielmente o que a nossa família fazia, o jeito que pensava. O mundo não é mais assim. Mas essa história conta como é ficar na sombra do pai e da mãe e de como isso interfere na vida de um jovem. Ninrode é um jovem. Ele tem a personalidade e o caráter formados, mas ele ainda está na descoberta de quem ele é, de onde veio, onde ele vai chegar. Realmente é muito confusa essa relação de família do Ninrode, porque o pai era um bêbado que odeia ele, e a mãe, meio exagerada nesse lugar do amor e idolatra ele. São dois extremos. Ele é influenciado pelos pais e acaba tendo um caminho que não é legal, de soberba, de ego, de desafiar Deus, de falar que vai ser maior, começou a subir na cabeça dele. A Semíramis, mãe dele, começa a falar muito isso e influencia. Pela sombra da mãe, ele começou a ser egocêntrico, ir contra Deus. E o motivo disso também é explicado na novela, porque Lúcifer está ali o tempo inteiro.

Como foi a troca com a Francisca Queiroz, uma grande atriz, né? Ela é o máximo! Uma atriz que me ajudou muito, muito parceira, muito boa e gosta do que faz. Na preparação foi muito legal, a gente foi fazendo várias vezes os textos, e cada vez ela fazia de um jeito que me estimulava a correr atrás e fazer. Porque é o meu primeiro protagonista, meu primeiro personagem de peso, eu já fiz outros, mas é sempre uma grande responsabilidade. E com o parceiro de cena tem que ter sempre um jogo, uma cumplicidade. E ela foi fundamental nessa história que eu contei, que vai ficar para o resto da minha vida, porque é simbólico pra gente que é ator, o primeiro protagonista. Eu tô muito feliz, tenho muito que agradecer a Francisca.

Ninrode é muito assediado por todas as mulheres, mas só a Liba (Pâmela Tomé) que chama a atenção dele. Já deu para ver uma química no ar de você e da Pâmela. É, vai ter um romance na história com a Liba. É muito legal porque como eu falei, tudo influencia na vida do Ninrode, é um caminho que ele vai tomar, as decisões. Então a Liba é uma que faz o Ninrode ir para outro lugar da vida dele. A Pâmela me ajudou muito, muito profissional, muito focada, embarcou na história. Ela foi a última a entrar no elenco e teve que correr muito por fora. E ela correu, chegou e a gente fez cenas lindíssimas, espero que o público goste. Vai ser legal!

Sempre o ator leva algo do personagem. O que você traz do Ninrode para você? Tem muita coisa que eu me identifico com o Ninrode. Eu tenho 27 anos, eu saí de casa de 14 para 15 anos, vim da periferia de Goiânia, então tem 12 anos. E nessa trajetória toda, eu tive muitos ensinamentos. Mas teve um agora do Ninrode que se identifica muito com tudo o que eu já vivi, que é a determinação. Quando eu ia lendo, eu me via nesse arquétipo, nessa pessoa. Minha mãe vendia pastel em feira, trabalhava limpando hospital, eu não tive uma infância tão fácil. Foi muito linda a minha infância, mas realmente eu só tive mãe. Então pra mim, essa coisa da determinação, de ter um legado, de você conseguir entender e vir para a terra e cumprir a sua missão de cabeça erguida, independente das dores, dos amores... Então isso Ninrode tem e eu também. Eu já abri mão de muitas coisas na minha vida pelo simples fato da vida ter me colocado no mundo da arte, de ser ator, ser modelo, ser músico. E ter que sobreviver de arte, entender o que é isso, ser um artista no Brasil, um país de terceiro mundo, e que a arte é uma influência sinistra, salva vidas. E dentro disso, o legado de deixar a minha composição artística para o mundo, é a minha disciplina. O Ninrode me trouxe totalmente isso. E como eu estava passando por coisas pessoais muito difíceis na pandemia, todo o mundo tava, né, o Ninrode me deu muita força, porque ele perde muita coisa. Mas disso ele tira grandes evoluções e grandes passos, tudo é um divisor de águas na vida dele, nada ele deixa passar, e eu sou muito assim também. E agora ainda mais, então ele me ajudou muito.

Foto: Marina Novelli

Você vem numa ascensão de papéis. Acha que a partir do seu trabalho como o Ninrode, toda essa repercussão, as pessoas terão um novo olhar até sobre o Pablo ator? Eu não sei, eu fiz com todo o coração. Eu estou aprendendo, sou muito simples nessas coisas, não de julgamento, mas de forma de se pensar, de narrativa. Ali era o melhor que eu podia dar, naquela época, com 27 anos. Isso pra mim é muito potente, o trabalho da arte é assim. Eu tenho um estúdio na minha casa, onde eu estou, e cada letra que eu escrevo eu tento ser o mais potente possível, como se fosse a última música. Então todas as cenas eram como se fossem as últimas. E eu acho que sempre vai ter um pensamento diferente, um olhar novo de quem tá vendo. Acredito que vão ver, vão gostar, desgostar, vão ver de novo e vão gostar, ainda mais com esse formato (streaming) que você pode ver de novo, parar, dar um pause.

Você acha que um protagonista demorou para chegar pra você ou veio na hora certa? Não! Chegou na hora certa. Eu acho que se eu não fiz nenhum, era o Ninrode que era para ser. Eu tinha que ter a cena da onça, de caça, com a Semíramis. Isso tudo é muito pontual e é pra sempre, não tem como apagar. Então, o Ninrode veio na hora certa, eu tava com a voz certa, o corpo certo, o intelecto perfeito. Até o meu sotaque, a prosódia, o jeito de falar, porque eu fiz um personagem baiano, sou goiano, vim para o Rio. Tem até isso, e ficou uma coisa mais singular. Então, acho que Ninrode foi perfeito pra mim. Quem me conhece sabe que eu sou assim, corrida, caçada, eu sou muito diurno. O Luiz Fernando Carvalho (diretor) me disse, o ator é uma mistura de atleta com filósofo, e eu levo isso.

Ninrode (Pablo Morais). Foto: Blad Meneghel/Record TV

Qual a tua ligação com religião? É muito pouco, foi na infância mesmo, porque eu tenho um irmão que é pastor de uma igreja em células, evangélica. Mas como eu saí muito cedo de casa, fiquei distante de ir em culto, igreja. E depois que fui entendendo o mundo da minha maneira, estudando, fiquei mais espiritualista. Para mim, o que rege o mundo é o amor, Deus é amor, eu acredito muito no ato, na coisa da fala eu não acredito tanto. Mas para mim, religião é o amor, o quanto você ama a vida, ama acordar, dormir, dar valor para os encontros e desencontros na sua vida com pessoas. O quanto você ama estar passando por uma dificuldade e entendendo que aquilo também é um ensinamento. Acho que tudo é um fluxo.

E você é muito novo ainda... Eu sou um cara muito sortudo, não tenho artista na família e a minha carreira é linda. Esses dias perguntaram para mim, qual é o seu sonho? Pô, eu moro num pé direito que eu nunca imaginei morar. Então eu não tenho o direito, pra mim tá ótimo, aqui tá de boa, não que eu pense pequeno, pra mim é muito legal ter a noção de onde eu vim, de onde estou e de onde eu quero chegar. Óbvio que eu quero chegar em Hollywood, que eu vou também fazer grandes clipes, vou fazer grandes peças, vou produzir grandes audiovisuais, que eu amo, grandes esculturas de arte plástica, tem a minha marca que eu vou abrir, fazer fashion filmes. Eu estou com 27, acho que até os 30 eu me estabeleço e aí eu continuo a abrir as minhas vertentes artísticas. Eu vim do nada e graças a Deus estou conseguindo construir uma carreira artística no Brasil, que eu sei que é uma das coisas mais difíceis que tem, principalmente com este governo maluco. Mas a gente sonha alto, mas ao mesmo tempo a gente tem que ter noção de onde a gente está e agradecer e ser grato por isso. E isso eu não abro mão.

E a carreira na música? Eu tenho um projeto de cinco singles e cinco clipes. Tem dois feats, tem uma com coreografia, estou dançando agora nos clipes. Vou soltar de 21 em 21 dias, então quando eu soltar, todos vão ter que estar prontos. Quando terminar essa parte do Ninrode, eu vou começar a soltar e quando chegar a vacina, vou voltar com shows. Tem muita coisa boa. E para os próximos feats, vou atrás dos meus amigos, o Seu Jorge, fiz um com ele há 7 anos, a Marina Lima, o Otto, vou começar a expandir. Fiz também um clipe agora com uma junção de moda e música, que os americanos fazem muito. Tem muita coisa sendo elaborada. Tá meio difícil agora porque tem muito protocolo de segurança, mas pouco a pouco a arte vai dando um jeito, sempre sobrevive.   

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