Giovanna Coimbra, a Diná, de Gênesis: “Me mostrou que as nossas dores podem ser as nossas fortalezas”

Atriz festeja novo papel de destaque e cita aprendizados com a personagem, que vivencia tragédia na trama


08 de setembro de 2021

Foto: Vinícius Mochizuki

Por Luciana Marques

*Veja a entrevista completa no vídeo, abaixo. 

Aos 22 anos, Giovanna Coimbra agarra com propriedade o seu mais novo desafio. E já nas primeiras cenas da personagem Diná, filha de Jacó (Giuseppe Oristânio) e Lia (Ingra Liberato), em Gênesis, a atriz mostra que é um dos nomes mais promissores de sua geração. Em uma sequência forte, a inocente jovem, de 17 anos, realiza seu sonho e vai conhecer a cidade próxima ao acampamento da família, sem o consentimento dos pais. Ela vai a uma festa, é seduzida pelo príncipe Siquém (Marcelo Filho) e acaba na cama com ele. Na bíblia, há várias interpretações para a passagem, a maioria trata como “estupro”, “abuso”. Mas na trama da Record TV, os autores optaram por uma outra linha. “Acho que a lição da história da Diná é no sentido da desobediência, das consequências dos nossos atos”, avalia a atriz.

Para Giovanna, destaque como a Gabriela, de Bom Sucesso, em 2019, que formou o par #gabicente, furor entre os fãs, com Vicente (Gabriel Contente), os aprendizados com a história de Diná são muitos. Mas principalmente sobre resiliência. “Eu percebi que sempre vai existir um novo dia e uma nova chance de a gente recomeçar”, diz. No descontraído bate-papo, a atriz também fala sobre a importância do papel para a sua carreira e de sua ação nobre na quarentena, que movimentou muitos estudantes. Giovanna ajudou candidatos do Enem de escolas públicas a se prepararem para a prova com aulas de matemática na página criada por ela, Quarentenáticos, no Instagram.

Foto: Blad Meneghel/Record TV

O que mais instigou você quando recebeu o convite para viver a Diná? Eu fui recebendo os capítulos em partes, primeiro eu fui tendo contato com o contexto da época, que em si já é muito pesado, da Lei de Talião, é olho por olho, dente por dente. Todos os ensinamentos quebrados, levavam sanções muito severas. Então eu já sabia que tudo o que viria na trama da minha personagem seriam grandes tragédias. Uma das coisas mais interessantes que me despertou na Diná é uma inocência muito grande. A gente vê também que a curiosidade dela é diferente, ela tinha curiosidade por coisas que para mim hoje em dia são comuns. Então eu tive que entrar nessa coisa da inocência, do contexto da época. E também um pouco do bíblico, porque ao contrário dos outros textos, o historiador até falou pra gente, a mensagem bíblica é recebida diferente pelas pessoas. Então tudo o que eu falava, eu sabia que tinha uma responsabilidade grande, iria tocar as pessoas de uma forma diferente.

Se a gente for pesquisar a história da Diná, tem várias versões para a passagem dela, de “estupro”, “abuso”, “violência sexual”... Mas na novela, a gente viu uma interpretação um pouco diferente, como foi para você entender esse processo para a cena? Quando eu recebi a Diná, eu tinha lido na Bíblia, e há  várias interpretações, umas usam a palavra humilhou,  violentou... E quando foi me passado, eu disse, nossa, a história dela é muito pesada, tem um o estupro. E eles me falaram, não, a história que a gente vai escolher contar é a história de uma menina que desobedeceu os pais por conta de sua inocência e curiosidade, quis conhecer outros povos. Eu acho que eles quiseram fazer uma nova abordagem nessa história. Então acabou que ficou diferente de novelas como José do Egito, Lia... Mas ao mesmo tempo deram oportunidade de uma nova conotação para outras coisas surgirem. A Diná nessa nova fase, pós essa tragédia de Siquém vai entrar numa crise muito grande. Ela vai ficar amargurada, porque a pessoa que passa por muita dor tem uma tendência ou a entrar num sofrimento tremendo ou a aprender com isso, ficar mais forte. Não que essa dor seja esquecida, ela permanece. E ela se sente culpada em consequência do ato dela, dessa curiosidade inocente. Ela se frustrou com algo que era o sonho da vida dela. E as consequências foram várias mortes, a morte de uma pessoa que ela se apaixonou. Ela nunca tinha tido um contato assim com outro menino. Imagina, é tudo muito trágico. Ela e o Siquém se sentem culpados. E eu acho que a lição da história da Diná é no sentido da desobediência, no sentido das consequências dos nossos atos.

A Diná vai se fechar para o amor? Eu acho que depois dessa tragédia, ela entra numa dor muito profunda. Ela, que era uma menina muito inocente, vivia uma realidade mais de conto de fadas, tem contato com essa realidade, e isso faz ela amadurecer muito rápido. Eu estudei muito isso da dor, entendi o psicológico das pessoas que passam por muitas dores, estudei um pouco sobre depressão. E a Diná vai entrando nesse estágio de dores muito fortes, profundas. Mas ao mesmo tempo, eu acho ela uma menina muito forte, porque apesar de tudo, ela vê um novo horizonte e tenta se reerguer. Ela ouve um pouco o pai de perdoar os irmãos, não que a convivência volte a ser a mesma, mas não tem mais aquela grande diferente pelos irmãos terem feito aquilo. E tem uma tragédia em relação ao amor. O primeiro amor dela é morto na frente dela, com a consciência que foi culpa dela. Isso vai gerar umas mudanças no psicológico dela em relação a se envolver amorosamente com outras pessoas. Tem umas ceninhas com o Namael, um menino que ela conhece, vamos ver o desenrolar disso, mas o contexto é ela ficar um pouco mais fechada para relacionamento.

Como é viver com 12 homens em volta, todos aqueles irmãos da Diná na trama? E na vida real você tem dois, né? Tenho dois irmãos, nem se compara aos 12, mas tenho uma sensação mínima dessa proteção. Tenho um pai (João) que equivale a uns quatro irmãos daqueles (risos). Mas os atores que fazem os irmãos da Diná, nossa, são muito carinhosos comigo. Se eu tivesse a oportunidade de na minha vida ter 12 irmãos, amaria se fossem eles. Virou uma irmandade. Eu chego, eu tenho que cumprimentar todos, se não cumprimentar um, já fala, houve algo?

Foto: Vinícius Mochizuki

O que você mais tem aprendido ao viver a Diná? Tem uma frase que eu vi hoje, “vulnerabilidade é coragem também”. E é através dessa vulnerabilidade que a Diná vai criar uma força grande. E pra mim experienciar essa história, veja bem, ela tem 17 anos e já passou por isso tudo, eu tenho 22 e passei por algo parecido. Eu percebi que sempre vai existir um novo dia e uma nova chance de a gente recomeçar. Às vezes, a gente vive coisas e acha que é o fim do mundo, ela não, é uma personagem que veio aí e me mostrou que as nossas dores podem ser as nossas fortalezas. E isso fortemente, porque ela passa por coisas extremamente difíceis e mesmo assim resistindo, tentando ver uma nova forma de recomeçar. Então para a minha vida, nossa senhora, achei isso demais da conta. Depois disso, as minhas dores ficaram mínimas perto das da Diná.

E pra Giovanna atriz, o que significa viver essa mulher tão forte. Chegou no momento que tinha que ser, que você se sente mais preparada? Eu sempre me coloco num lugar de estar disposta a aprender cada vez mais. Cada personagem pra mim é uma nova descoberta, um universo diferente que você vai experienciar e te trazer coisas que você nunca imaginou. Eu fiquei muito feliz de viver essa história da Diná depois de ter feito a Gabriela, uma personagem que exigiu de mim muito entendimento de roteiro, ela passa por situações difíceis. A Gabriela passou por uma curva muito grande, ela começou de um jeito, depois passou por uma doença. E pra mim, entrar em contato com tudo isso, no momento que eu estava vivendo, fiquei muito agradecida. E esta bagagem da Gabriela foi muito importante para eu poder expandir ainda mais com a Diná. E construir um ser humano é complexo, e nessas condições da Diná, mais ainda. Eu lembro que quando eu estava estudando ela, estava tocando Segundo Sol, da Cássia Eller, que diz, “que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia e a vida que ardia sem explicação”. Esse “ardia sem explicação” é no mais alto nível da coisa. Eu já sabia locais onde buscar isso, o próprio texto me dava muita coisa, é um texto simples, apesar de ser bíblico. Imagino que por quer passar a  mensagem para qualquer pessoa que esteja recebendo.

Durante a quarentena você fez uma ação muito nobre, de dar aula de matemática para quem ia fazer o Enem e criou a página Quarentenáticos, no Instagram. Como foi pra você? Eu percebi entre várias dificuldades das pessoas na quarentena, a questão do Enem. Eu pensei, como eu posso ajudar? Eu faço Engenharia, vou ajudar alguém com aula de matemática, é o que eu acho que eu sei bem. E aí houve uma grande repercussão, o país inteiro buscando, eu criei uma página, em que todos teriam acesso ao material. E foram surgindo voluntários, professores... Na realidade estava todo o mundo muito disposto a ajudar, só não sabia como. Lá tem os 7 conteúdos que mais aparecem no Enem, tem videoaula, explicação de exercícios... Nossa, foi tão legal, tão bonito, tanta gente vindo e querendo contribuir sem ganhar absolutamente nada. Eu até me emociono quando falo. Eu quero continuar, não com a mesma frequência, mas de forma mais gradual. Depois eu recebi várias mensagens de pessoas contando que passaram em universidades. É muito legal!