Fernanda Vasconcellos, de A Vida da Gente: O grande amor dessa novela é o das irmãs Ana e Manu”

A delicada trama de Lícia Manzo será reexibida a partir desta segunda, 1º de março, na Globo


01 de março de 2021 00h18

Foto: Rodolfo Ogura

A volta ao ar, nesta segunda, 1º de março, de A Vida da Gente, na faixa das 6 da Globo, não será um presente só para o público. Os atores também vibram com a reexibição e apontam a trama, com o texto primoroso e delicado de Lícia Manzo, tendo foco as relações familiares, como um trabalho inesquecível. Umas das protagonistas, Fernanda Vasconcellos, que interpreta a tenista Ana Fonseca, vê essa experiência como singular na sua carreira. “Quando você tem a oportunidade de trabalhar num projeto como esse, te causa frustrações depois em outros”, avaliou a atriz, em coletiva online, organizada pela Comunicação da Globo.

Na novela, a então jovem atriz, encarou desafios gigantes, principalmente nas cenas entre as irmãs Ana e Manu (Marjorie Estiano). Uma delas foi emblemática, o embate entre as duas depois de a tenista acordar do coma. A própria autora contou que escreveu oito laudas do confronto. Fernanda admite não saber se um dia terá uma outra oportunidade dessa como atriz. Na trama, Ana fica em coma após um grave acidente, logo após dar a luz Júlia (Jesuela Moro). E é a sua melhor amiga e irmã, Manu, que criará o bebê e acabará se casando com o pai da criança, grande amor de Ana, Rodrigo (Rafael Cardoso). Até que anos depois, Ana desperta.

Foto: Globo/Alex Carvalho

Qual a sua cena favorita da trama? É essa do confronto entre as irmãs. É muito engraçado, curioso, que eu me lembro exatamente daquele dia, exatamente da minha mão suando, eu tenho a sensação daquela cena. Eu não sei se eu vou ter outra oportunidade de atuar num texto desse, do que foi aquilo, o embate daquelas duas irmãs falando das suas dores, das suas diferenças. Às vezes, se machucando.

Qual é, na sua opinião, o maior defeito e a maior qualidade da Ana? A Ana foi criada para obedecer. E, muito jovem, ela se submetia a tudo isso, porque se sentia completa quando agradava, principalmente, a mãe, naquela relação de simbiose delas. Então a alegria da mãe era a alegria dela, ela vivia para alimentar isso, vivia naquela submissão. A partir do momento que ela começa a crescer, os hormônios começam a mudar, que ela começa a sentir desejos, ela começa a olhar pra fora e, ao mesmo tempo, para dentro, para as vontades que ela tem. É onde começa a perceber, porque é uma personagem que tem uma força interna de vida muito grande, ela começa a perceber as vontades e os desejos dela. E é onde ela começa a romper com esse lado de ser submissa à mãe, para crescer. Isso não é um defeito, mas é porque ela foi criada dessa forma. Mas com o tempo, ela começa a desabrochar e aparece a maior qualidade dela, que é de construir, de viver, de existir, por ela mesma.

Manu (Marjorie Estiano) e Ana (Fernanda Vasconcellos). Foto: Globo/Divulgação

Há algo desse trabalho que foi tão importante na sua carreira, que você leva para sempre em todos os novos projetos? Eu acho que quando você tem a oportunidade de trabalhar num projeto como esse te causa frustrações depois em outros. Você fala, alguma coisa aqui não tá encaixando, por que eu não consigo acessar esse personagem? Às vezes, é por conta de um trabalho muito bom que você fez com uma direção muito boa, com um texto brilhante. E quando você tá num outro trabalho, alguma coisa não tá funcionando, aí você fala, putz, é porque eu não tenho aquele texto que eu estava falando, não tenho aquela direção. Então o que fica pra mim é que essa novela foi um ponto fora da curva, onde eu aprendi muito. E, às vezes, me deparo com a ausência de tanto profissional competente junto. Esse trabalho fica pra mim como a referência de um lugar que eu aprendi com a troca e com os profissionais mais dedicados.

O que você lembra de 10 anos atrás da reação do público com a história dessas duas irmãs? Eu lembro que na época tava começando o Twitter e eu tinha acabado de sair do Projac e no meu telefone o negócio do Twitter não parava de piscar. E eu fui ver o que era, eu acho que foi quando começou essa coisa de torcida no Twitter, team alguém, team fulano de tal... Eu fiquei surpresa, eu pensava, o que é isso de team. Aí começou uma torcida que eu acho que, de alguma forma, ela não tinha que existir. Porque eu acho que o grande amor ali dessa novela é o amor dessas irmãs. Elas se complementam, elas não são rivais, elas são o coração, o amor da novela. E o que fazia eu me concentrar na minha personagem era o amor que eu sentia, o amor que a Ana sentia pela Manu, não o contrário, mas despertou o contrário no público. Mas o que fazia com que eu me concentrasse era a carta que a Manu tinha deixado para a Ana enquanto ela estava em coma, eu ficava escutando aquilo, vendo as cenas da Marjorie. Era o amor que me fazia conectar, de repente, vira uma torcida para um lado e para o outro.

Foto: Globo/Renato Rocha Miranda