Natalie Smith: Atriz da websérie LGBT de sucesso na América Latina

Ela lembra superação e diz que o importante é “se permitir ser feliz com quem quiser”


14 de maio de 2018 11h01

Foto: Divulgação

Por Luciana Marques

Desde nova, a atriz Natalie Smith tinha certeza de que o seu destino seria a atuação. Ainda durante a infância no Rio Grande do Sul, ela já se sobressaia como cover de Joelma e de Sandy. O contato com o teatro a fez ter certeza de sua vocação. Mas até conseguir se mudar para o Rio, precisou ainda vencer uma anorexia.

Mas a paixão pelas artes a ajudou. Como todo jovem ator, já no Rio, estudou e batalhou muito. O início do trabalho com a produtora independente Ponto Ação Produções foi um passo importante na sua carreira. Principalmente com a estreia, em março de 2017, da websérie de conteúdo LGBT, A Melhor Amiga da Noiva, estrelada por ela e por Priscilla Pugliese, hoje a mais vista e comentada em toda a América Latina.

Baseada em uma história fictícia publicada em um site de fanfics, pela autora Nathália Sodré, a produção teve 9 milhões e meio de visualizações até o quarto episódio da segunda temporada, esta escrita por Natalie e Priscilla. “A gente sabe que está ajudando de alguma forma para que as pessoas se sintam mais à vontade para viver isso. Ninguém deve se privar de alguma coisa porque o outro acha errado”, ressalta.

Natalie e Pugliese voltam a formar um par romântico, a pedido dos fãs, em websérie que começa a ser produzida em julho, baseada na fanfic The Stripper, da autora Evelin Silva. A trama é baseada no suposto relacionamento da cantora Camila Cabello e Lauren Juregui, ex integrantes da banda Fifth Harmony. Mas Natalie adianta para o ArteBlitz outros projetos fresquinhos que estão vindo aí.

Confira a entrevista exclusiva, também em vídeo, abaixo:

Em cena da websérie A Melhor Amiga da Noiva, com Priscilla Pugliese. Foto: Divulgação

Qual foi o seu primeiro trabalho profissional?

A primeira peça que foi sucesso, ainda no Rio Grandeo do Sul, foi A Noiva Cadáver. Eu fazia a noiva e cantava. Comecei a cantar uns dias antes da estreia. Era um desafio para mim, e todos falavam, nossa, você deveria ser cantora. E eu dissse, nossa, sou péssima atriz, então, porque cantora sou muito ruim. Fiquei até meio decepcionada (risos).

 

 

Como foi essa decisão de vir para o Rio?

Foi bem difícil. Meus pais não sabem disso e vão descobrir agora... Durante um ano eu ficava chorando no quarto antes de dormir, porque pensava, quem vai me dar boa noite, quem vai vir falar comigo antes de dormir. O processo mais difícil foi esse, de ter que sair da casa dos meus pais, pelo sentimento que tenho por eles. Mas assim que cheguei no Rio, inclusive, depois de um mês eles desmontaram o meu quarto e montaram o da minha irmã, nem me queriam de volta (risos)... Eles sabiam que eu não voltaria.

E como foi efetivamente esse início no Rio?

Foi muito difícil financeiramente. Tudo bem que hoje não é ainda grande coisa, mas tenho uma situação um pouco mais estável. Mas sempre trabalhei muito e com muita esperança. Independente se o trabalho era como atriz, sempre fui animada, sabia que seria provisório. Eu trabalhava com evento, em restaurante. Trabalhei com publicidade também, fazia muito teste, porque eu estudava em Botafogo e ia direto fazer os testes no mesmo bairro.

Foto: Divulgação

Em algum momento pensou em desistir?

Nunca na minha vida pensei em desistir. E como venho trabalhando desde muito pequena para me tornar atriz, estudar, e fazer apenas isso na minha vida, nunca pensei. Isso era algo que tinha fixo na minha cabeça. Eu falei, tenho a vida inteira para tentar, então, depois que morrer desisto. Mas antes disso, não.

Levou muitos “nãos”?

Muitos. A carreira de ator, de atriz, acho complicada por isso, porque a gente ouve muito 'não'. E a gente ainda recebe crítica ao longo da carreira inteira. Às vezes, a pessoa gosta muito do seu trabalho, às vezes, não gosta. Você trabalha com diretores, pessoas diferentes o tempo inteiro. Tem que ter esse poder de entender, de respeitar o trabalho do outro e sempre tentar se adaptar a cada situação. Cada um trabalha de um jeito. Então, tem que ter um psicológico bem resolvido, porque senão você não aguenta. O tranco é pesado.

Como surgiu a ideia de fazer um canal direcionado ao público LGBT?

O canal Ponto Ação Produções foi criado pela Priscilla Pugliese e pela Tamires. Hoje o Rodrigo (Tardelli) e a Priscilla tomam conta, e eu ajudo eles com tudo. Conheci eles há dois anos na websérie Entre Duas Linhas. Todo o projeto a gente pergunta um para o outro, será que rola? Agora a gente vem com um novo projeto, The stripper, o Até você Me Esquecer vem com a segunda temporada. As pessoas acham que a gente tem um público só LGBT, mas não. A gente tem muito público que não é não é homoafetivo e que se identifica com a websérie pelo amor das personagens. Claro que o nosso maior público é LGBT, e a gente adora porque é um público fiel, que tem mais carência nessa área por não ter representatividade com televisão aberta, e hoje com o livre acesso ao youtube a gente acaba tendo bastante retorno por isso.

Foto: Divulgação

Porque você acha que deu tão certo?

A gente trata como se fosse um casal normal, como é para ser tratado. Não existe essa diferença entre você ter um relacionamento homem e mulher, homem com homem, ou mulher com mulher. A gente trata dessa forma para que as pessoas possam naturalizar isso, para que ninguém veja isso na rua e ache estranho. Ninguém deve se privar de alguma coisa porque o outro acha errado. Você tem que ser feliz, porque senão, ninguém vai ser por você. É uma coisa que sempre digo, ou você vai ser feliz nessa vida ou não vai ser mais. Então, tem que aproveitar, tem que ser permitir, você não tem que pensar no que o outro vai pensar, porque você não é o outro. Com certeza, o outro não vai pensar em você também. Então, pense em você.

Você acha que ainda há muito preconceito com os LGBTs?

Hoje a gente tem uma representatividade maior na música, na internet, no audiovisual em geral. As pessoas já estão tratando de forma natural, mas como toda a luta é um caminho muito longo ainda para ser percorrido. A gente precisa estar falando sobre para que daqui a um tempo isso seja tratado da forma mais natural possível. Para que todo o mundo tenha o direito de andar na rua sem receber olhares. Ou muito pior, tem gente que hoje ainda é espancada, um absurdo, porque escolheu amar uma pessoa do mesmo sexo. Quanto mais a gente falar sobre todo o tipo de preconceito, daqui a um tempo a gente vai poder viver melhor.

Quando mais jovem você teve anorexia. É verdade que a arte a ajudou a superar a doença?

Exatamente. Eu comecei a ter aos 13 e fui até os 18. Logo no início, fui levada a médicos, porque os meus pais perceberam cedo que estava perdendo muito peso. E a anorexia não deixa de ser uma depressão. Hoje a gente recebe um retorno grande do nosso público que tem depressão. A pessoa assiste aos vídeos, vê a gente nos stories, Instagram, e ela já tem mais ânimo para viver a vida. De alguma forma, a gente consegue aconselhar para que não desista. Então, anorexia e depressão são problemas psicológicos, que precisam ser tratados com profissionais. O conselho que dou é você se entender, saber porque está dessa forma. E, de verdade, buscar algo que te dê prazer. No meu caso, eu tive uma série de fatores, e um deles foi vir para o Rio. Eu tinha que manter um peso durante um ano para poder vir, foi um acordo que fiz com os meus pais. E quando eu vim morar no Rio, eles tinham muito medo, mas graças a Deus cheguei aqui muito focada na carreira. Hoje me sinto curada. Por mais que digam, você nunca deixa de ter, hoje sinto que estou realmente bem comigo mesma e é isso que importa.

Além de The Stripper, quais são seus outros projetos?

No canal, a gente pretende trabalhar com outros púbicos, não só o LGBT. E esperamos que gostem tanto quanto e que faça sucesso. E eu também agora estou com outros projetos, peça de teatro, curtas e webséries também, fora do canal. Tem um curta que fala sobre estupro contra a mulher, no caso a minha personagem. A menina que vai para a balada, acaba bebendo, usando drogas e, insconsciente, é abusada, e isso é tratado de forma super displicente. Agora em maio também estreia a segunda temporada de Poesias para Gael, um projeto completamente diferente das minhas personagens no Ponto Ação, porque ela é homofóbica, pratica bullying com o protagonista gay.

Agradecimento: Tea Shop Rio Design Barra. Av. das Américas, 7777 – Barra da Tijuca. Piso Térreo – loja 156.