Roberto Birindelli relembra o Josué: “Tinha 26 filmes, mas o grande público conheceu aí o meu trabalho”

Ator festeja reprise de Império e nova parceria com Alexandre Nero em Nos Tempos do Imperador


13 de julho de 2021 00h36

Foto: Divulgação

Por Luciana Marques

Um dos atores mais requisitados no cinema nacional e latino, Roberto Birindelli lembra de um fato inusitado em sua estreia com um papel de destaque em novelas no horário nobre, como o Josué, fiel escudeiro do comendador José Alfredo (Alexandre Nero), em Império, em 2014. “Apesar de, na época, eu já ter feito uns 25 filmes, o grande público não conhecia o trabalho que eu vinha desenvolvendo. Foi uma grande oportunidade, um presente do Aguinaldo (Silva - autor)”, conta. O personagem, com seu ar enigmático, caiu no gosto do público.

E, desde então, Birindelli emendou tramas importantes na telinha, como Além do Tempo, Apocalipse e O Sétimo Guardião. E para a alegria do público, o ator vai reeditar a parceria com Alexandre Nero, em Nos Tempos do Imperador, nova novela das 6, com estreia em agosto. Ele viverá o general Solano López, enquanto Nero dará vida ao vilão Tonico Rocha, um político corrupto e violento. “Boa parte de minhas cenas são com Nero. Vai ser divertido!”, conta o ator. No bate-papo, Birindelli fala ainda da expectativa para a estreia de quatro longas.

Como está sendo rever Império, esse grande sucesso, sete anos após a exibição original? Fiquei muito feliz, sempre recebia mensagens nas redes sociais perguntando quando essa novela voltaria à telinha. Está sendo legal rever essa história no momento tão diferente em que estamos passando. Império tem a complexidade e detalhamento do texto maravilhoso do Aguinaldo e o cuidado visual e de acabamento do Papinha. A maior lição que a gente aprende é que o sucesso vem do suor.

Josué (Roberto Birindelli). Foto: Divulgação

O que o personagem Josué significou na sua carreira? Meu primeiro personagem numa novela das 21h. Dá uma abrangência maior. Apesar de, na época, eu já ter feito uns 25 filmes, o grande público não conhecia o trabalho que eu vinha desenvolvendo. Quando Aguinaldo mandou e-mail perguntando se eu toparia fazer o Josué, quase nem acreditei. Já tinha trabalhado com Papinha (Rogério Gomes, diretor) em A Teia. Foi uma grande oportunidade, um super presente do Aguinaldo. 

O Josué tem um certo ar enigmático. Desde início da novela, é algo que você quis passar, até por não saber na época qual era a desse homem tão fiel a seu patrão? Na preparação para a novela já tinha trabalhado esse lado obscuro, silencioso e enigmático dele. Josué é motorista, consultor, guardador de todos os segredos, pode defender, até matar, pelo comendador. O Aguinaldo o define como ‘fac totum’, um faz tudo do comendador. Ele é um cara observador e até perigoso. Aprendi algumas coisas com Josué. Ele é um cara de ação, instintivo. Não pensa duas vezes pra decidir e tomar atitudes, e não se sente culpado ou carrega remorsos. Sou bem diferente nisso.

José Alfredo (Alexandre Nero) e Josué (Roberto Birindelli)l. Foto: Reprodução Instagram

Como você definiria a relação do Josué com o José Alfredo? Eles se conheceram em situação de urgência no monte, quando José Alfredo foi baleado, e Josué salvou a vida dele. Zé Alfredo ofereceu emprego, e assim estão há 30 anos. O reflexo disso nas ruas foi imediato, muitos homens vinham me parabenizar pela atuação e pela relação de amizade e fidelidade entre Josué e o Comendador. Homens que se sentiam identificados com a trama, o que não é comum em folhetins. E que podiam estufar o peito e dizer sem vergonha que assistiam novela. Isso era relativamente novo!

Qual as suas maiores lembranças dos bastidores? Uma novela normalmente se centra em cinco ou seis núcleos por onde passeia a narrativa. No caso de Império, havia 2 núcleos centrais: o Comendador (Nero) e Maria Marta (Lilia Cabral), que concentravam a grande maioria das cenas. Então a gente gravava muito! Uma curva dramática enorme, passando por vários perrengues, cenários, ritmos e situações diferentes. Foi um baita aprendizado, da dinâmica de gravação, da generosidade da equipe toda. Da compreensão e como nos ajudávamos uns aos outros.

Josué fez uma parceria e tanto com o comendador José Alfredo. Você e o Nero também se deram tão bem assim, porque essa sintonia é vista nas cenas... Super legal, pensa que a gente convivia diariamente durante horas, passando pelo cansaço, risos, frustrações, dificuldades e de vez em quando alguma cervejinha também. E fiquei muito feliz de saber que a parceria vai continuar em Nos tempos do Imperador. Boa parte de minhas cenas são com Nero. Vai ser divertido!

Dom Pedro II (Selton Mello) e o general Solano López. Foto: Divulgação

Você está no elenco de Nos Tempos do Imperador, que estreia agora em agosto. Como definiria o general Solano López? Filho do então Presidente do Paraguai, o general Solano López entrará em conflito com D. Pedro II (Selton Mello) o que desencadeará A guerra da Tríplice Aliança, ou a Guerra do Paraguai. Solano aparece no primeiro capítulo, onde os conflitos são apresentados, e depois entra efetivamente a partir do capítulo 75. A primeira parte da novela é centrada no período escravagista, depois a história vai focar na Guerra do Paraguai, e haverá batalhas. Fiz vários longas de época, mas nunca feito tinha uma novela com essa temática. Em relação à preparação, fiz treino de montaria. Já gravei as cenas a cavalo, mas certamente haverá mais ao longo da novela. Mais adiante haverá batalhas. Tem treino de armas. Pratiquei esgrima vários anos, isso não vai ser complicado. Estou tomando cuidados semelhantes ao da composição do Pepe em relação à linguagem. Buscamos palavras que possam ser compreendidas tanto em espanhol quanto em português.

Essa novela tem uma peculiaridade que ia estrear antes da pandemia, teve as gravações suspensas e só agora, com quase toda a trama gravada, estreará. Como foi esse processo para o elenco? Uma loucura mesmo. Final de 2019, eu tinha terminado de filmar La Teoria dos Vidrios Rotos no Uruguai e vim para o Rio para as gravações de Nos Tempos do Imperador . Tinha um intervalo. O personagem ia entrar no primeiro capítulo  e depois ia ter um intervalo de dois meses. Gravei as primeiras cenas e fui para os festivais de cinema da Europa. Voltei direto pra quarentena e hoje finalmente, um ano e meio depois, retomei as gravações de Solano. Estou fazendo um ensaio da prosódia paraguaia, quer dizer, da forma gramática tradicional e o emprego correto da acentuação das palavras. As gravações estão sendo lentas e planejadas. Estão tomando todos os cuidados possíveis em relação à Covid.

As produções audiovisuais estão sendo retomadas de forma lenta. Você já tem algum novo filme para rodar? Estão previstos os lançamentos de vários longas que fiz este ano. Tem Águas Selvagens, de Roly Santos, uma coprodução Brasil/Argentina, onde faço o protagonista; além dos longas Human Persons, de Frank Spano, uma coprodução EUA, Colômbia, Brasil; a produção uruguaia La Teoria de los Vidrios Rotos, de Diego Fernández. Também tem os longas nacionais A Garota da Moto, de Luis Pinheiro. Tenho convites para filmar no exterior assim que a novela acabar. Também comecei a obra do centro cultural na Gávea e estou desenvolvendo roteiro de uma série.