Valentina Bandeira e o grande momento com sua vilã Cora: “Desafio gigantesco, goza da maldade”

Após 4 anos no Zorra, atriz encara psicopata com pegada sensual em Quanto Mais Vida, Melhor!


17 de janeiro de 2022 00h38

Foto: Beto Roma

Por Luciana Marques

* A entrevista completa está disponível no vídeo, abaixo.

Com 15 anos de carreira, iniciada no teatro O Tablado, Valentina Bandeira se viu diante de um desafio e tanto em 2019, quando o diretor artístico Allan Fiterman, de Quanto Mais Vida, Melhor! a convidou para dar vilã à Cora, meio psicopata e com uma pegada sensual. “Fiquei enlouquecida! Falei, vou me deleitar, me jogar de paraquedas nua para viver essa personagem”. Desde a estreia da trama das 7, o público tem se divertido com as maldades de Cora, principalmente contra Flávia (Valentina Herszage). “Ela vai padecer ainda muito nas minhas mãos”, diverte-se.  

Após participações em tramas como Geração Brasil e Totalmente Demais, Valentina, de 27 anos, teve a oportunidade de mostrar toda a sua verve cômica durante quatro anos no Zorra, o que já fazia antes no teatro. “O programa me deu macete de televisão. Hoje chego num set e consigo entregar as coisas com velocidade, no ritmo que precisa acontecer”. A atriz revela também que, desde criança, adorava fazer piada. “Era engraçada, sempre tendenciosa a usar o humor como um instrumento para lidar com a vida mesmo”, conta.

Cora (Valentina Bandeira). Foto: Globo/Fábio Rocha

Como surgiu o convite para você voltar às novelas como uma vilã? Eu tava fazendo Zorra já há quatro anos. Estou num batidão intenso na Globo, porque fiz Geração Brasil, devo ter ficado uns seis meses sem fazer nada, tinha 19 anos, fiz Totalmente Demais e engatei no Zorro. Eu tava lá no Projac, acho que foi em 2019 e eu encontrei o Allan (Fiterman – diretor artístico). Ele disse que tava saindo de uma reunião da nova novela que iria fazer e ia assinar pela primeira vez como diretor geral e que tinha um papel que era a minha cara. Ele disse, eu quero que você faça e é uma vilã. Eu fiquei completamente enlouquecida porque sempre foi algo que eu quis fazer. E o Allan é um amor da vida, o que ele me chamar, eu estou lá, prontamente preparada.

E quando você leu sobre a Cora, o que mais instigou você? Uma coisa que tinha escrito na sinopse: “ela é bonita e sábia”. Eu falei, gente, por que me escolheram, como o Allan achou essa personagem é a minha cara? Podia convidar um monte de gente bonita que sabe fazer bem... Acho que isso me instigou, fazer uma vilã com uma pegada meio sensual, que era uma coisa que na minha vida pessoal já tenho uma dificuldade. Então eu achei aquilo um desafio gigantesco. E tinha essa coisa meio psicopata de ela gozar da maldade. Isso foi algo que me encantou, eu fui a fundo com essa coisa dela degustar da loucura.

Você se inspirou em alguma grande vilã, viu algum filme ou série para compor a Cora? A gente tinha uma referência muito forte de Bonnie e Clyde, por ela fazer essa dupla com o Abib (Felipe Abib – o Roni). Eu, pessoalmente, tinha referências clássicas, tipo vilãs e filmes do Tarantino. E durante o processo da novela estava passando Paraíso Tropical, no Viva, minha novela favorita, tinha a Alessandra Negrini, essa coisa de gêmeas. Essa reprise me fez procurar tudo do Gilberto Braga, todas as vilãs clássicas dele. A Cacau (Cláudia Abreu) fazendo Celebridade. Eu sou uma noveleira louca, então eu já tinha um background de referências fortes na televisão brasileira.

Por que você acha que ela tem aquela fixação na Flávia? Porque ela é invejosa. Eu acho que a Flávia tem aquela coisa que ela não consegue ter, ela é legal, tem um coração legal, e a Cora não consegue ser assim. Ela tem inveja e eu acho que no fundo ela fica indignada com ela mesma de não conseguir expressar afeto, se relacionar afetivamente com os outros, de ser sempre estourada, reativa, explodir. Acho que isso é algo que gera recalque nela. Ela vê a Flávia ali conseguindo se relacionar com carinho com os outros e ela não consegue, aí ela quer matar... Eu acredito também que ela não teve uma família bem estruturada, ela e os irmãos foram meio largados e ela teve que se responsabilizar por tudo muito cedo.

Sei que você não pode dar spoiller. Mas acha que ela pode se redimir, gostaria que isso acontecesse? Eu acho que o público vai conseguir ver isso ao longo da novela, que ela tem humanidade, acho que a gente conseguiu criar esse balanço. Ainda tá muito engatinhando, ela tá muito ainda na maldade crua, mas, por exemplo, ela é muito apaixonada pelo Roni. Eu acho que só esse amor já joga ela para um lugar mais humano, a gente começa a entender os sentimentos dela, sai desse lugar psicopata sem sentimento.

O tema da novela fala em segunda chance para o quarteto protagonista, que “renasceu” após o acidente. Você é um tipo de pessoa que vive mais o presente, o agora? Eu faço análise há 20 anos, então eu repenso a minha vida toda a semana. Eu já tenho isso muito incrustrado, o meu caráter é formado na psicanálise. Eu não tenho nem 30 anos e faço análise há 20. É maravilhoso! Eu vou pensando ao longo dela acontecendo. Acho que não tenho isso de, ah meu Deus, preciso parar agora e repensar. Eu estou sempre em processo de reflexão, analisando o que acabou de acontecer, eu vou construindo a minha vida ali paralelamente aos acontecimentos.

Foto: Beto Roma

São 15 anos de carreira, você vem do Tablado, acha que para ter a oportunidade de pegar um papel como a Cora na TV venho no tempo que tinha que ser, com o estofo do teatro, do Zorra? Acho que sempre acontece no momento que é para acontecer. Eu fico feliz porque eu acho que eu consegui curtir essa novela, degustar, enquanto ela estava acontecendo. Eu estava muito preparada para aproveitar essa oportunidade. Não como atriz, eu digo emocionalmente, talvez antes eu não tivesse degustado tanto esse acontecimento, essa conquista. Eu realmente aproveitei cada momento, acho que muito pela pandemia, movida por uma sensação de, meu Deus do céu, eu estava muito presa, a vida é agora. Acho que isso influenciou bastante. E sim, demora para você construir uma carreira, claro que tem pessoas que explodem rápido. Mas eu acho que a construção de uma carreira, pelo menos da minha, foi passinho por passinho, ela foi acontecendo na insistência, na persistência. E olha que eu sou muito privilegiada e luto pra caramba. Mas fico feliz de como as coisas foram se construindo, fiz dois papéis muito parecidos em novelas, aí o Zorra me puxou e me jogou na comédia de novo, que era o que eu vivia no Tablado antes. Aí eu entrei para uma roda de que eu podia fazer qualquer coisa e agora me jogaram para uma vilã que é totalmente uma quebra de paradigma do que eu podia fazer. Então eu estou construindo uma carreira do jeito eclético, randômico e anárquico, do jeito que eu gosto.

E esse estofo do teatro ajuda você a segurar isso agora, né? Sim, é muito estofo de teatro. É muito tempo aí limpando o chão do Tablado. Eu estou lá desde criança, desde os seis anos, era a minha casa, eu morava ali.

O que significou para você todo esse tempo de Zorra Total na sua carreira. E tem muita gente que diz, ah, fazer humor é fácil, mas não é, né? É difícil pra caramba, é requinte da espécie. Quem faz humor consegue ir para o drama, agora quem faz drama não necessariamente consegue ir para o humor. Tem essa máxima que eu acredito muito. A minha personalidade é formada no humor. Eu sempre fui uma criança engraçada, fazia muita piada, eu sempre tive muita tendência a usar o humor como um instrumento para lidar com a vida mesmo. Então é algo que faz parte do meu cotidiano, do jeito que levo a vida. E o que o Zorra me deu e eu percebi nessa novela, foi macete de televisão. É muito treinamento, aquilo foi uma escola pra mim. Então eu chego num set e consigo entregar as coisas com velocidade. Além de eu ter feito um programa durante quatro anos com os maiores comediantes do Brasil.