Conquistas de Priscila Ubba: Serva espiã em Gênesis e protagonista com distúrbio raro no cinema

Atriz festeja desafios, fala do início nas artes ainda criança e da luta diária de ser artista no Brasil


25 de fevereiro de 2021 00h35

Foto: Telmo Pereira

Por Luciana Marques

Mesmo em um momento bastante delicado para a cultura em geral, Priscila Ubba segue com o seu propósito de vida: fazer arte. Atualmente, ela está no ar como a serva Guemecha, na fase Ur dos Caldeus, na superprodução Gênesis. “Enfrentei e ainda enfrento perrengues. Ser artista no Brasil é muito duro, uma luta diária, mas poder seguir com honestidade e ver a transformação que a arte permite em outrem, me impulsiona a seguir mais e mais a cada dia”, afirma. Segundo a atriz, a personagem é um desafio e tanto. “Ela fala nas entrelinhas. É fascinante!”.

Mas não é só na televisão que Priscila se vê diante de uma oportunidade e tanto. No cinema, ela protagonizará o longa Godiva, em que dará vida à Sílvia, uma mulher que sofre de distúrbio de identidade. O filme tem a direção de Candé Faria, marido da atriz. “A vejo como meu maior desafio profissional até hoje. Estou atuando em português e espanhol. Será, realmente, “esquizofrênico”, como diz Fernanda Montenegro”. Na entrevista, a atriz também fala sobre a sua conexão com o mercado audiovisual da Europa, onde já participou de algumas produções.

Guemecha (Priscila Ubba). Foto: Blad Meneghel/Record TV

Depois de dois trabalhos na Record TV, você participa agora de Gênesis, como a Guemecha. O que mais instigou você nesse trabalho? Primeiro por ser uma superprodução, são “várias novelas” em uma única novela. De imediato, gravaríamos aqui no Brasil e em Marrocos, um misto de culturas que enriquece muito a produção e nos faz crescer bastante como artistas. Segundo, pela minha personagem Guemecha que me instigou, desde a sinopse. Ela é desafiadora e sou movida por desafios. 

Como você definiria a Guemecha, ela tem um quê de vilã? Realizando um trabalho bem aprofundado de pesquisa e entrega, descobri uma frase que me acompanhou durante o processo da novela. “Guemecha vive dentro do silêncio”. Uma serva, naquela época, sabia muito sobre tudo. No caso da Guemecha, ela transita por muitos núcleos, mas tem a sagacidade de saber o que dizer e se permite a “ousadia” de falar. Eu diria que ela é uma espécie de espiã, que carrega consigo os segredos da trama.

Você se inspirou em alguém para compor a personagem, como foi a preparação? Sou apaixonada pela fase de construção da personagem, da pesquisa, que é riquíssima e fascinante. E esse processo me acompanha durante toda a obra. Realizei uma grande pesquisa sobre a época, sobre os costumes, a servidão e algumas referências mais atuais como o filme e o livro Pedra de Paciência, de Atiq Rahimi.

O que você mais aprendeu com a Guemecha e com este trabalho? Guemecha me ensinou a observar e escutar com mais clareza, a ser mais paciente e alimentar o silêncio que diz muito mais do que mil palavras. É uma personagem com muita sabedoria.

Qual a sua ligação com religião? Hoje, a minha religião é muito simples e foi construída com a “complexidade” das vivências que tive. Tenho uma ligação direta com Deus, com universo e tenho muita fé. 

Você já está focada em um outro trabalho, que é o filme Godiva. Como tem sido essa experiência? Godiva é um grande filme. É um presente para qualquer atriz, mas também um enorme desafio. Interpreto a Silvia, a protagonista da trama e uma menina mulher que sofre de distúrbio dissociativos de identidade. Ela assume várias personalidades distintas durante a vida. A vejo como meu maior desafio profissional até hoje. Estou atuando em Português e espanhol. Será, realmente, “esquizofrênico”, como diz Fernanda Montenegro (risos). Além de contar com um grande elenco: Reginaldo Faria, Beth Goulart, Marcelo Faria, Adriano Garib...

A sua personagem, protagonista, é uma mulher com várias personalidades, que sofre de um distúrbio raro. Como tem buscado compor esse papel, o que mais surpreendeu você ao pesquisar sobre o assunto? Realizei uma pesquisa muito profunda sobre o tema que ainda é pouco abordado. Apesar disso, foi fascinante no aspecto da construção artística. Também estou sendo acompanhada pelo olhar primoroso da Katia Achcar, psicanalista e preparadora, que está me conduzindo com muita sabedoria e vivência nesse trabalho tão delicado. Além da preparação em espanhol, pois uma das personas de Silvia é Inês, a espanhola.

O filme tem a direção do seu marido, Candé Faria. Como você definiria ele como diretor e como é a troca com ele também no trabalho, você conseguem dividir bem o fato de serem casados e a questão profissional? Candé é muito sábio, generoso e criativo como artista. Nos entregamos de corpo e alma com muita intensidade e honestidade no processo. Seguimos nutrindo um ao outro e construindo nossos projetos sempre com muita cumplicidade, respeito, amor e em função total da arte. Não existe distinção entre a vida profissional e pessoal, por isso, nos compreendemos muito. O nosso propósito é muito claro nessa jornada. 

Você fez dois curtas rodados em Portugal, um deles premiado. Como foi essa sua incursão no cinema lá, você tem muitos conhecidos, qual a sua ligação com aquele país? Minha ligação com a Europa é desde 2010 e faz parte da minha faculdade de artes em Madrid. Foi quando conheci e desfrutei da arte Europeia. Assim que finalizei a novela A Terra Prometida aqui no Brasil e fui premiada como atriz revelação, surgiram oportunidades de trabalhos na Europa e decidi ampliar minha carreira. Foi maravilhoso. Tive a oportunidade de trabalhar com diretores do mundo todo, franceses, americanos, chineses e belgas em grandes produções. Sou apaixonada pela Europa, ela respira e valoriza sua arte como “uma joia cotidiana”. É um deleite para qualquer artista e minha eterna segunda casa. 

Como foi o seu início nas artes, o momento em que você disse é isso que eu quero para a minha vida? A arte sempre fez parte da minha vida desde pequena. Fazia aula de pintura e desenho, dançava ballet, jazz, cancan e participava do grupo de teatro desde os 7 anos de idade. No início era de uma forma muito visceral, mas, com 16 anos, já em Minas Gerais, tomei a decisão e tive a certeza de que era o meu ofício e o meu propósito de vida.