Carlo Porto, o Adão, de Gênesis: “Foi o primeiro machista da face da terra e eu nunca imaginei isso”

Ator cita desafios e aprendizados no trabalho e conta como a chegada da filha Maria Liz o tem transformado


18 de janeiro de 2021

Foto: Divulgação

Por Luciana Marques

*A entrevista completa está disponível no vídeo, abaixo.

O ator Carlo Porto vive um momento especial de sua carreira, na qual tem emendado sucessos. A partir desta terça-feira, 19 de janeiro, às 21h, ele dará vida a Adão, na superprodução bíblica Gênesis, da Record TV. “Quando a emissora me fez o convite, eu sabia que o meu desafio não seria pequeno”, fala ele, que interpretou Gustavo, protagonista de Carinha de Anjo, em 2016, e atuou na trama portuguesa Alma e Coração, em 2018. Mas mesmo sabendo da responsabilidade agora de viver um dos personagens mais comentados da Bíblia, por ser o primeiro homem criado por Deus, ele se deparou com algumas surpresas durante a sua imersão no trabalho.

A cada nova página que lia do roteiro, ele via um Adão que ele até então não conhecia. Principalmente, quando ele deixa o Éden, amargurado, e começa a colocar toda a culpa em Eva (Juliana Boller). “Ele foi o primeiro machista da face da terra. E isso não tinha passado nunca pela minha cabeça. Foi difícil, tive que encarar esse aprofundamento na vida desse homem”, conta. Entre os maiores aprendizados, agora que é pai de Maria Liz, de quase cinco meses, da união com a cantora Liah Soares, está de refletir cada vez mais sobre o machismo. “Acho que de tudo essa questão agora é muito cara pra mim que sou pai de menina”, avalia.

Foto: Edu Moraes/Record TV

O que mais surpreendeu você ao pesquisar mais sobre Adão? A Bíblia não consegue falar muita coisa sobre todos os personagens que estão ali, senão seria um livro que não teria fim. Então ela é bem suscinta quando trata dos personagens. A Record, é claro, tinha que dar um corpo melhor para essas pessoas. E quando me deparei pela primeira vez com o que estava escrito no roteiro, aquilo não tinha me passado pela cabeça antes. E nas primeiras leituras eu me surpreendi muito, de como aquele homem ficou amargurado com tudo aquilo que aconteceu, de como foi difícil para ele lidar com a saída, com a separação dele de Deus. Porque até aquele momento ele tinha o paraíso só para ele e ele tinha uma relação com Deus, completamente natural. E de repente, ele perdeu tudo isso, a beleza do lugar, tudo o que conhece até então, e ele se vê num outro universo, tendo que lidar com outras dificuldades. E ele pegou toda aquela amargura e ressentimento e acabou transferindo para o que ele entendia que tinha sido a causa, Eva. Aí ele passa a ter uma relação muito difícil com aquela mulher. E isso eu nunca tinha pensado. Eu tive que encarar isso, esse aprofundamento, esse mergulho na história desse homem.  

Assim que Adão deixa o Éden, passa a culpar Eva, começa a ter um comportamento diferente com ela. Você tem essa leitura de que o primeiro homem criado por Deus era machista? Totalmente! Pelo o que a gente recebeu no roteiro, a gente precisava dar esse tom. Ele tem essas cores também. Ele foi o primeiro machista da face da terra, isso não tinha passado nunca pela cabeça. De que eu daria vida a um Adão com essas cores. Isso foi bem difícil pra mim, porque ele ganha camadas novas daquilo que você tinha pensado. Então é um mergulho, um aprofundamento de todas essas questões. E ir cavocando isso é um desafio mesmo.

Eva (Juliana Boller) e Adão (Carlo Porto). Foto: Edu Moraes/Record TV

Adão vive muitos conflitos depois que sai do Jardim do Éden, tem também a perda do Abel de forma trágica, depois o reencontro novamente com Deus... O que você mais aprendeu e vai levar para a sua vida dessa experiência? O Adão tem muitos conflitos. Depois de ele ser pai de Caim e do Abel, ele tem muitas filhas. Era uma família grande e essa convivência não era fácil. E eu descobri nesse trabalho um Adão machista, que desde uma primeira experiência no Éden, ele carregava algo ruim em relação ao sexo oposto. E é muito maluco porque agora eu tenho uma filha. Eu preciso fazer com que esse mundo seja um pouco melhor depois dessa minha experiência. Porque eu tenho uma parte de mim, que depois que eu for embora vai ficar aqui e pode sofrer muitas coisas, como o machismo, por exemplo. E hoje no Brasil é tão triste ver nessa experiência de pandemia tantos casos de feminicídio, isso é tão triste, nos dói tanto. Só tendo essa experiência da paternidade para a gente entender com um pouco mais de lucidez o quanto faz mal, o quanto essas coisas que a gente traz lá de trás, que estão na gente e que a gente nem se dá conta. Muitos de nós ainda nem estão preparados para fazer uma reflexão e entender que esse machismo está, muitas vezes, num gesto, numa palavra. Então eu acho que de tudo isso, essa questão agora é muito cara pra mim que sou pai de menina.

Como foi a parceria com a Juliana Boller? A Ju é atriz. Então é muito legal, ela topa as coisas. No nosso processo de imersão, a gente experimentou muitas coisas, a gente trabalhou muito cada uma das cenas. A Ju não é uma atriz fresquinha, cheia de dedos para nada, é uma vaidade que está muito bem colocada ali na vida dela. Então quando ela entra em cena, ela vai que vai. É muito bom jogar com alguém que está vibrando nesse lugar muito parecido com o nosso.

Foto: Vinicius Muhammad/Record TV

Qual a sua relação com religião? Eu não gosto muito de religião, não sou um cara religioso, mas eu prezo muito pelo relacionamento com Deus. Eu acho que religião e relacionamento com Deus não são a mesma coisa. Eu respeito quem tem religião, mas eu acho que o relacionamento com Deus é tão bom, tão saudável você acordar de manhã e agradecer mais um dia ou fechar os olhos à noite e poder agradecer também. A gente tem uma experiência de vida que é tão fugaz, passageira, então eu acho que o que é da alma, do espírito é o que tem valor. Então eu acho que todo o ser humano tem que experimentar o relacionamento com Deus.

  

Você vem fazendo trabalhos de destaque, mas acredita que o Adão pode ser um marco na sua carreira, que as pessoas até podem passar a ver o seu trabalho com um outro olhar? Eu acho que sem dúvida nenhuma o meu trabalho ganhou uma profundidade muito grande. A gente entrou num processo de imersão muito forte. Então, com certeza sim, o ator que tinha até Gênesis não é o mesmo de agora. O meu trabalho ganhou uma profundidade considerável. As pessoas vão ver, o resultado vai estar ali. Eu não alimento muita expectativa, a gente tem que trabalhar, as coisas têm que vir, a gente que se dedicar 100% e fazer tudo o que a gente faz com amor. Mas eu acho que sim, as pessoas vão ter realmente uma nova visão de mim e do meu trabalho depois de verem essa novela. Realmente, o que a gente fez ali foi cinema para a televisão, o cuidado. Não só do meu trabalho, o cuidado de toda uma equipe. A Record está esperando há muito tempo para colocar a mão nesse projeto e se dedicar a ele. E agora que eles estão fazendo é com muito carinho, muita gana. Então, sem dúvida nenhuma, não só o meu trabalho, a emissora está se colocando com uma força a mais. Acho que para a televisão brasileira vai ser enriquecedor.

O ator a esposa, a cantora Liah Soares. Foto: Reprodução Instagram

Como foi o encontro com a Liah na sua vida? Eu conheci a Liah em 2012, eu estava em cartaz na Sala Fernanda Montenegro, no Teatro Leblon, com o espetáculo Homens, só tinham homens na peça. E ela foi nos assistir a convite de uma amiga. E no final do espetáculo, ela nos apresentou. Três, quatro anos depois, ela me procurou para tentar gravar um clipe dela, mas não deu certo. E a gente só foi se encontrar pessoalmente pela segunda vez, dois anos depois desse telefonema. Ou seja, cinco anos depois de a gente se conhecer. Então, tinha que ser... E quando a gente se reencontrou mesmo foi muito lindo. E a vida tentando separar a gente, eu aqui em São Paulo, ela no Rio, depois eu fui para Portugal... A vida tentando nos separar e agora a gente está aí com essa coisa linda marcando a nossa vida pra sempre, que é a Maria Liz.  

O casal com a filha, Maria Liz. Foto: Reprodução Instagram

E como está Maria Liz, é uma misturinha de você dois, né? A gente está muito babão ainda para conseguir entender o que é meu e o que é da Liah nessa pessoinha. A gente só faz curtir. Olha, eu já estava esperando um tempo para viver essa experiência e tem sido tão bom. Eu acho que 2020 foi um ano muito difícil para todo o mundo, mas se eu olhar só para a minha vida foi uma grande benção. Porque a Maria Liz nos preencheu durante todo esse processo maluco. Quando a pandemia começou em março, a Liah já estava grávida, foi um momento da gente ficar quieto em casa, a gente se conectou muito, passamos meses nos preparando para a chegada da Maria Liz. E quando ela veio, ela chegou trazendo uma coisa tão linda. Ela veio numa experiência de um parto que eu não consigo imaginar como poderia ser uma experiência melhor. E hoje, com quase cinco meses, cada sorriso que ela dá, cada sinalzinho de desenvolvimento que a gente vê, a gente fica babando. Tem vezes que eu acordo, porque ela dorme no quartinho dela, mas ela dá um chorinho por volta das 7h e a Liah traz ela para a nossa cama. E quando eu acordo, eu olho para os olhinhos dela e eu ainda não acredito, eu penso, meu Deus, olha o que me aconteceu. Esse serzinho! E ela começa a abrir os olhinhos, já sorri, porque é extremamente simpática. A gente está apaixonado mesmo!  

???????Foto: Reprodução Instagram

Ana Terra é a guerreira e amorosa Renah, em Gênesis: “Veio para quebrar paradigmas”

Camila Rodrigues muda o visual para viver Nadi, cobiçada sacerdotisa em Gênesis