Marcus Montenegro lança o livro Ser Artista: “Bato na tecla da formação, a beleza vai diminuindo”

CEO da Montenegro Talents exalta legado de divas e fala da campanha #euqueroveteranosnatv


17 de setembro de 2020 00h30

Foto: Edu Rodrigues

Por Luciana Marques

*Veja a entrevista completa no vídeo, abaixo.

Com mais de 30 anos de experiência entre produção de peças e shows e de agenciamento artístico, Marcus Montenegro brinda aos apaixonados pela área e aqueles que sonham em seguir a carreira nas artes com o lançamento do livro Ser Artista – Guia para uma carreira sólida no mundo da atuação, pela editora HarperCollins. Na obra escrita junto com o jornalista e escritor Arnaldo Bloch, o CEO da Montenegro Talents mescla as dicas imprescindíveis para seguir na profissão com suas memórias. Afinal, ele conviveu com ícones como Bibi Ferreira e Marília Pêra e troca até hoje com nomes como Nathália Timberg, Irene Ravache, Nicette Bruno, Rosamaria Murtinho e Claudia Raia. “Eu me considero um privilegiado de poder ter sido criado com as grandes damas do Brasil, voltadas para o estudo e formação. Quero deixar esse legado para os mais jovens”, conta.

Desde 2018 à frente da Montenegro Talents - antes ele foi sócio por 27 anos da Montenegro e Raman - Marcus conta hoje com mais de 350 talentos, entre atores, autores e diretores. O diferencial de sua empresa, segundo ele, está nas relações humanas. “Eu tento ser o mais possível próximo da pessoa, sem querer passar do limite da intimidade, é a intimidade da verdade, da cumplicidade, da parceria e da troca”, diz. Tanto que ele lembra que só no ano passado, 20 artistas que haviam saído por querer experimentar novas parcerias, voltaram para o escritório. Outro diferencial é incentivar o seu casting a se autoproduzir. Até porque ele sempre trabalhou com artistas empreendedores, a chamada “geração de ouro”. “Isso fez a diferença na carreira deles”, lembra o empresário, que já planeja lançar Ser Artista 2 e uma biografia.

Capa do livro lançado pela HarperCollins.

MOTIVAÇÃO PARA LANÇAR O LIVRO - “E eu já vinha desenvolvendo um método de agenciamento há muito tempo desde que eu comecei a agência em 1996. Até então eu era apenas produtor de teatro e shows. Quando eu parei para contar, produzi 100, até tomei um susto (risos). Aí eu planejei esse método da Montenegro Talents, contando as minhas histórias e memórias. Quando eu foquei no agenciamento, eu ampliei para autores e diretores. Hoje eu tenho mais ou menos 326 atores, autores 28 e 8 diretores. Eu criei uma cadeia 360 e falei, agora quero colocar o meu método de trabalho. E foi aí que eu comecei a escrever o livro, um projeto de dois anos pra lançar a Talents. Porque eu tinha a Montenegro e Raman, com o meu querido e amado amigo, foram 27 anos muito bem sucedidos. E a gente tinha esse acordo, de eu parar de produzir. Depois eu ia esperar a Bibi (Ferreira) partir, ela estava com 95 anos. E em respeito à Bibi eu não queria encerrar uma história antes de fechar um ciclo com ela. Aí eu lancei em 2018 a Talents. E foi quando eu finalizei o projeto do livro, de fechar contrato com uma editora, a HarperCollins.”

DINÂMICA DO LIVRO “É uma mistura das minhas memórias, são boas histórias que estimulam o artista a fazer alguma coisa boa para a carreira dele. Porque eu sempre trabalhei com artista empreendedor, a geração de ouro, eles começaram muito antes de mim, e todos se autoproduziram. Então eu conto essa trajetória de cada um dando exemplos para estimular que as pessoas se autoproduzam, tenham um olhar, uma percepção de negócios, esse é um lado do livro. E eu mesclo com a minha palestra, de dicas de construção de carreira, que vai desde avaliação do material, eu explico como é uma boa foto, um bom vídeo, mercado de trabalho, como abordar os profissionais, quais os caminhos a seguir em determinados momentos. Então eu misturo as minhas boas memórias profissionais à minha palestra. Por isso ele acaba sendo um guia. Eu tenho certeza, é impossível terminar de ler o meu livro e não ter nenhum tipo de legado.”

Foto: Edu Rodrigues

LEGADO DE GRANDES DIVAS “Eu lancei a campanha #euqueroveteranosnatv porque eu acredito ainda muito na formação do ator pelo estudo e dedicação. Eu já estou com 51 anos, realmente eu não quero morrer tendo uma carreira aonde o ator perdeu o prazer do estudo e da formação. E eu fui criado com atores voltados para o estudo e a formação. Minha vida inteira tive vários masterclass nos fins de semana, nos encontros, todos eles falam inglês, francês, espanhol, todos leem muito. Então as trocas, eu me lembro de encontros na casa da Tônia Carrero, onde a tarde era sobre Shakespeare, a Nathália Timberg e a Irene Ravache têm um poder de compreensão de um texto, a Marília e a Bibi então, nem se fala. O que eu aprendi com elas a nível de disciplina, de conduta, de como você produzir dentro de um critério artístico forte, porque elas dançavam, cantavam e interpretavam. Elas me deram muita educação, formação com educação, respeito. Então eu tenho uma devoção por elas absoluta, eu sou um apaixonado, eu quero poder deixar esse legado para a garotada que está chegando. Porque hoje nós temos um concorrente muito violento, a internet, ela traz uma praticidade, dinheiro, mas não quer dizer que ela traga estudo e formação.”

 

 

TALENTO, VOCAÇÃO, FORMAÇÃO OU CARISMA“Eu sempre enumero na palestra quesitos que eu considero para ser um grande artista. Mas eu explico o passo a passo. Às vezes você tem talento e não tem vocação. O talento não é vocação, o talento é o seu dom. Você pode cantar, dançar e interpretar muito bem, mas às vezes você não tem a vocação de fazer aula de canto, de ter a disciplina da interpretação. Isso eu peguei muito com os meus atores. Bibi, Marília, Paulo Autran, Sérgio Britoo, Nathália, Irene, me passavam isso o tempo inteiro. Você tem que interpretar bem, durante a semana você tem que desenvolver aquela arte com aulas e no desenvolver da profissão tem que ter a disciplina de chegar no horário, o compromisso com a imprensa, com a arte, com a profissão, então é um mix de tudo isso, é muito complexo. E tem uma coisa que as pessoas às vezes não entendem... O carisma é a única coisa que você não aprende, ou você nasce com ele ou você não nasce. É aquela pessoa que é muito solar, ela entra na tela e preenche a tela inteira, é uma luz que vem dela. E, às vezes, ela nem é tão boa, mas ela aprende, vai se aperfeiçoar porque ela tem a vocação, tem um talento que não é tão grande quanto o carisma, mas com o tempo se equipara. Então eu vou elucidando esses tópicos para que as pessoas entendam a complexidade da carreira, que não achem que apenas um rosto bonito é ser artista. O buraco é muito mais embaixo. E eu bato muito na tecla da formação, porque a beleza, você sabe muito bem que chega uma hora que ela vai diminuindo. A cultura do jovem tá aí, é irreversível, chega uma hora que você é altamente substituível, aí a pessoa pira porque não entende o porquê. Não vai ficar eternamente naquela posição. Para ela ficar, ela tem que fazer por onde, está aí a Claudia Raia. É o grande exemplo da geração dela. Tanto que Marília e Bibi falavam que a última diva, considerada por elas, é a Claudia Raia. Ela está sempre autoproduzindo, criando os projetos dela, agora vamos lançar dois livros dela. Ela é uma business woman, ela sabe negociar, criar, desenvolver, isso ela adquiriu com a vida. Aos 13 anos, estava fazendo balé em Nova York, é muita ralação em cima de estudo, formação pesada, olha quantos musicais ela fez, conciliava com novela, é mãe. Não é para qualquer uma.

DIFERENCIAL DA MONTENEGRO TALENTS“Hoje o escritório tem de tudo, eu tento trazer a pluralidade para dentro da empresa. Eu tenho todos os tipos de atores. Eu criei um modelo de negócio como se fosse uma emissora de televisão, como um selo de qualidade. Meu interesse é, ligue para a Talents, que você vai achar um bom ator, de todos os tipos. Essa é a minha missão, o que eu quero. Só não trabalho com criança. A grande pergunta que me fazem sempre, como você consegue trabalhar com tanta gente? Quem convive comigo sabe o quanto invisto no relacionamento humano. Então, eu tento ser o mais possível próximo da pessoa, sem querer passar do limite da intimidade, é a intimidade da verdade, da cumplicidade, da parceria, da troca. Eu sei dizer as coisas duras na cara das pessoas, às vezes, não querem crítica, mas eu falo o que eu penso, seja quem for, com educação e respeito. E quanto você tem educação e respeito você tendencia a fazer com que uma relação seja mais duradoura. Então, eu invisto no humano, acho que as pessoas se sentem acolhidas. E tem um fator interessante no escritório, a volta. Ano passado voltaram 20, e eu pergunto, por quê? Saíram, quiseram experimentar, trocar, eu respeito, voltaram e eu recebi de coração aberto.”

Foto: Edu Rodrigues

#euqueroveteranosnatv

“Eu até quero esclarecer uma coisa. Quando eu postei uma foto do Tarcísio Meira e da Gloria Menezes, que não são meus, que a TV Globo desvinculou eles... Muita gente escreveu lamentando pela importância e muita gente dizendo, pôxa, eles estão ricos... Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O que eu venho falando há muito tempo é fruto do meu estudo. Antigamente as novelas eram feitas por 40, 50 personagens, você tinha o casal protagonista, jovens, os núcleos paralelos de jovens, mas o grande elenco, entre 70% a 80%, era da meia idade pra cima, os grandes atores. E as emissoras se fizeram, construíram um império através desses elencos, culturalmente fizeram um país apaixonado por novela e essas pessoas tendo uma importância absoluta. Com o passar do tempo, tinham autores daquela época que escreviam muito para essa geração, veio uma nova geração de autores que não tem esse olhar para essa idade. Os núcleos jovens são infinitamente maiores, às vezes, as matriarcais das novelas têm 50, 60 anos. Ano passado, foi escalada uma atriz de 40 anos para ser mãe de um ator de 29. É um erro! Hoje o veterano não é o quem tem 70, 80, 90, e as pessoas falam, ah, tá na hora de se aposentar. Primeiro, que artista não se aposenta, é um outro tipo de profissão. E hoje um artista de 50, 60 anos, é um veterano, porque os melhores papéis de são de 40 pra baixo. Então é uma questão que virou cultural. Você tem poucos atores do nível de Gloria Perez, Aguinaldo Silva, Walcyr Carrasco, Duca Rachid e Thelma Guedes, que escrevem para a terceira idade, eles têm esse olhar. Eu acho que todas as novelas, todos os horários, tinham que ter esses núcleos, com bons personagens, não é só colocar, ter esse cuidado. Então isso está virando uma onda cada vez maior. E essas pessoas que fizeram a história da TV e que as emissoras ganharam muito com isso, estão fora. E não é ficar contratado, sabemos que estamos vivendo uma grande crise. Mas há centenas de veteranos que precisam trabalhar. Senão, você começa a fadar o ator ao desemprego aos 50 anos de idade. Tem que ter esse tipo de olhar, esse critério. A gente não pode banalizar, eu sou radicalmente contra ator ser escalado por número de seguidores. Esse é um pensamento muito cruel. Há milhares de atores se preparando durante anos em várias escolas de teatro conceituadas, nós não podemos transformar a carreira nisso.”

PLANOS DE LANÇAR O GUIA NO EXTERIOR“Lancei o livro para preparar as novas gerações. Porque eu virei palestrante, professor. Uma vez por mês faço atendimento artístico no escritório para o Brasil inteiro, cinco pessoas vêm me conhecer. E eu dou uma aula, uma masterclass sobre agenciamento e uma avaliação artística. E faço palestra para o Brasil inteiro. Hoje o meu lado acadêmico está muito consistente e vai ficar cada vez maior. E meu sonho ano que vem é levar o meu livro para fora do país, porque foi dito pela minha editora que não há livro com essa consistência no mundo. Quero lançar em espanhol e inglês.”

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